ORIGINAL PHOTOS OF VILLAGE OF CASTELO DE VIDE, PÓVOA E MEADAS, PORTUGAL & OTHER COUNTRIES...

INFO3: Castelo de Castelo de Vide

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O Sítio
CMP, escala 1:25 000, folha 335
Coordenadas:  39º24’53’’N (39.4146)
                    7º27’24’’W (-7.4566)
Distrito: Portalegre
Concelho: Castelo de Vide
Freguesia: Santa Maria da Devesa

O Castelo de Castelo de Vide está implantado num cabeço rochoso, num contraforte da Serra de São Mamede e desenvolve-se em altitudes na ordem dos 600 m (607 m é o ponto máximo).
Para Norte da localidade de Castelo de Vide desenvolve-se a peneplanície, confinando com os limites do concelho de Nisa e na fronteira com o Rio Sever. Castelo de Vide encontra-se entre o rio Tejo, no seu curso médio e a Serra de São Mamede, numa zona de corredor.
Está na confluência de dois cursos de água, de caudal menor, mas que se fundem na Ribeira de São João, que corre à cota média de 500 m, e que com a Ribeira de Vide constituem afluentes do Rio Sever. Juntamente com outros caudais os rios já referidos tornam Castelo de Vide uma zona muito rica em recursos hídricos. Os terrenos envolventes são conhecidos pela sua fertilidade, o que torna Castelo de Vide um local com todas as condições para a fixação humana.
Encaixada entre a Serra de São Mamede e o Tejo, a zona de Castelo de Vide não possui um relevo que se constitua como apoio eficaz na defesa e manutenção da fronteira. Daí a necessidade de fortificar postos que façam aquilo que o relevo não permite.
É um local estratégico. E é estratégico porque as características militares de Castelo de Vide são muito relevantes e condicionantes de desenvolvimentos posteriores.

Os Acontecimentos
Não possuímos, nesta fase da investigação, dados que apontem para uma ocupação efectiva em Castelo de Vide anterior ao período medieval cristão. É conhecida a antiguidade de ocupação pelo território do concelho de Castelo de Vide que remonta ao neolítico, sendo a ocupação romana bem atestada pela presença de estabelecimentos romanos. Também a ocupação visigótica é pouco conhecida e embora os dados arqueológicos em Castelo de Vide não sejam esclarecedores da ocupação árabe, será de admitir uma efectiva fixação e fortificação deste espaço, auxiliada pelos amplos recursos naturais e hidrológicos.
Poderá ter sido conquistada por Afonso Henriques, em 1180, no contexto das suas incursões pelo Alentejo e no século XII, durante a Reconquista, esta localidade poderá ter assumindo um importante papel no reordenamento administrativo e militar da zona. É disso testemunho, vários textos de doações em que Castelo de Vide aparece como limite dos territórios doados.
Embora seja apenas conhecido o foral manuelino é de supor um foral mais antigo para Castelo de Vide, ainda durante o séc. XIII ou princípio do XIV. Documentos recém estudados apontam para a existência, no início do séc. XIII (1233) de um núcleo populacional fortificado em Castelo de Vide e com foral próprio, que contudo não conhecemos. Em 1262 existia em Castelo de Vide alcaide, juízes, concelho e selo privativo, símbolos e cargos de uma vila medieval.
Em 1273 Castelo de Vide foi entregue a D. Afonso, fazendo parte do conjunto de terras alentejanas em que se deram as contendas entre este e seu irmão D. Dinis, após a morte de Afonso III em 1279. Castelo de Vide foi palco de um “encontro” entre os dois irmãos: em 1281 perante o desagrado que provocou em D. Dinis as notícias de fortificação de Castelo de Vide, em que este terá obrigado o irmão a derrubar as obras que havia feito na fortificação. D. Dinis recuperou Castelo de Vide em 1312, após a morte de D. Afonso, e o estado das suas fortificações não seria o melhor. Após esta data a localidade consolida-se e afirma-se como “posto avançado” no território a Norte da Serra de S. Mamede.
Durante o século XIV a vertente comercial Castelo de Vide conhece uma grande expansão levando a que a população extravase o recinto muralhado original.
D. Manuel I outorga foral novo a Castelo de Vide, o único documento deste tipo relativo a Castelo de Vide que nos chegou até nós. Já em 1509 Duarte d’Armas tinha desenhado esta fortificação com uma ampla mancha de casario abaixo das muralhas.
No início da Guerra da Restauração, já no século XVII a vila transpusera os limites da cerca urbana do séc. XIV ficando facilmente ao alcance do fogo inimigo, e numa situação quase insustentável. Em 1642 a solução encontrada foi a construção de baluartes e barreiras de terra em torno do castelo. Na segunda metade do século XVII o projecto de Nicolau de Langres, assume uma maior envergadura e coloca cortinas nos alinhamentos das provisórias obras de 1642. Durante as Guerras da Restauração Castelo de Vide abastecia também as fortificações vizinhas de Montalvão e Marvão, e resistiu aos conflitos do séc. XVII sem ter sido abandonada.
Já no séc. XVIII, logo em 1705, uma violenta explosão destrói a torre de menagem medieval, onde estava instalado um paiol. Logo nessa data e até 1710, com projecto de Manuel Azevedo Fortes, Castelo de Vide conhece uma nova campanha de fortificação do com a edificação do Forte de São Roque, e o prolongamento da fortificação abaluartada para sudeste (Muralha dos Loureiros ou da Conceição) que englobava no seu interior o Bairro da Conceição e o Convento de São Francisco, protegendo a mancha urbana que se espalhara para sudeste. Constrói-se uma nova porta, Porta de Aramenha, edificada com pedras que dizem ter sido retiradas das vizinhas ruínas da cidade romana de Ammaia, e que estaria no lugar da Porta do Carro.
Na década de 20 do século XIX a Praça de Castelo de Vide é desactivada e no final do século, a Porta da Aramenha é destruída.
Em 1910 o castelo de Castelo de Vide é classificado como Monumento Nacional. Durante este século são de realçar as intervenções promovidas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que entre 1936 e 1948 promoveram a reconstrução de panos de muralha. Estas intervenções foram acontecendo ao longo de todo o século XX. Entre 1985 e 1990 o castelo de Castelo de Vide conhece campanhas arqueológicas sob a direcção de Jorge Oliveira. Já no final do mesmo século e no princípio do séc. XXI, novas campanhas arqueológicas em Castelo de Vide, relacionadas com minimização de impactes, consolidaram algumas informações já existentes sobre a evolução deste sistema fortificado. Em 2002 o IPPAR lançou o “
Projecto de Reabilitação do Edificado e Ordenamento Paisagístico do castelo de Castelo de Vide” que se centrou na alcáçova medieval com algumas acções de arranjo e musealização e acolhimento do visitante.
 
Castelo de Vide é composto pelo conjunto do castelo e da cerca urbana. Estes são complementares entre si, funcional e arquitectonicamente.O Castelo ocupa o canto sul da vila fortificada, com os seus muros na rigorosa continuidade da cerca urbana. Terá sido o primeiro elemento a ser construído na campanha de obras do séc. XIV, sendo as muralhas completadas até 1327. Apresenta uma planta não totalmente ortogonal, como aparenta o desenho de Duarte d’Armas de 1509.O acesso era feito pelo interior da vila e não directamente do exterior. Para aqui abria-se a porta da traição, bastante ampla e semelhante às restantes portas. As portas ocorrem em lados contrários no castelo, como se verifica na maioria dos castelos da Idade Média. A porta de entrada no castelo terá mudado de posição possivelmente no final do reinado de D. Manuel ou imediatamente a seguir. Todo o castelo é rodeado por uma barbacã.A torre de menagem ergue-se na esquina menos protegida, no único canto da alcáçova que não confina com a povoação fortificada. Era uma torre imponente com cerca de 20 m de altura, distribuídos por uma planta quadrada de 16 m de lado. No tempo de D. Manuel terá sido acrescentado um piso, mais leve, com um pé-direito mais reduzido mas onde se previu janelas genuínas e dois fogões de sala com chaminé e é assinalado por Duarte d’Armas como “my bom apousentamento em cyma”. Não tem ameias. A ligeira torsão que apresenta relativamente à esquina do castelo não está ainda bem esclarecida: pode resultar de condicionamentos militares concretos ou então estar alinhada com um pano de muralha desenterrado no meio do pátio de armas, o que significaria uma construção anterior ao séc. XIV. Todo o castelo de Castelo de Vide caracteriza-se pela qualidade do material e das técnicas construtivas. A utilização de alvenarias de pedra e cal aliam-se à pedra, em que as segundas são reservadas para sítios específicos como os cunhais, a base da torre de menagem e certas molduras de portas. Foram utilizados o granito e o grauvaque, ambos materiais abundantes na região. As fundações eram directas sobre o afloramento rochoso que foi cortado para esse efeito.
A
cerca urbana
apresenta a forma de um polígono irregular, de planta pentagonal. A sua edificação terá sido condicionada pelo relevo e também por existências anteriores ao séc. XIV. Os muros rectilíneos proporcionam uma envolvente angular ao conjunto. As torres que compõe este conjunto ocorrem nos cantos do recinto, em pouco número e pouco salientes relativamente à muralha, e apresentam uma forma cilíndrica. São torres discretas, maciças e poderiam estar munidas de ameias, tal como a muralha. Não há torres ou dispositivos para tiro vertical nas entradas da vila. Escadas de acesso à muralha estavam estrategicamente articuladas com as ruas e não há interrupção do adarve possibilitando uma rápida movimentação pelo alto dos muros. A desaparecida Torre do Relógio estava associada às defesas externas: barbacã e couraças.
A barbacã do castelo de Castelo de Vide foi absorvida ou perdida em grande parte pelas obras abaluartadas do séc. XVII, restando o troço sul-nascente. Estaria já instalada e operacional em 1327 tal como indicado na lápide que encima a porta sudeste e também contemporânea da muralha (visível na mesma tipologia de aparelho e desenho de portais). Abrangia sectores inteiros do contorno defensivo, os mais vulneráveis ou os de maior estatuto e que deveriam corresponder a metade do comprimento fortificado total (que tem 500 m). A barbacã ajudava a interligar a imagem da vila e do castelo estendendo-se em redor de ambos sem diferença ou descontinuidade arquitectónica.
Existiam em Castelo de Vide duas couraças, que se apresentavam como um pano de muralha, com uma altura equivalente à barbacã. Possuíam uma disposição em L, isentas de torres ou corpo de remate à ponta. Uma destas couraças já havia sido apanhada pelo casario no princípio do século XVI.
As portas consolidavam um alinhamento noroeste-sudeste de todo a povoação, retomando o princípio romano do
cardum e decumanum
, em que se salienta a Rua Direita. A vila fortificada definiu-se em redor desta artéria que apresentava as portas nas suas duas extremidades, abertas a sudeste (que ligava aos arrabaldes que para aqui se desenvolveram) e a noroeste (donde saiam as estradas para Nisa e o resto do reino). Estas portas apresentavam uma grande robustez de construção, assim como os dois postigos instalados em panos contrários da muralha, exactamente face a face, muito utilizadas no quotidiano pelos habitantes.
Resistem dúvidas quanto à fundação original dos elementos militares do castelo de Castelo de Vide. Pedro Cid aponta como hipótese de trabalho a correspondência de alguns elementos a fases cronológicas distintas. Assim dos séculos XII ou XIII ou até islâmico pode ser a torre cilíndrica e os muros que delimitam o núcleo interno mais pequeno; do séc. XIV a torre de menagem e os panos da barbacã dando para a vila.
A
fortificação abaluartada abraça tanto o castelo como a cerca medieval. Apresenta um traçado muito pouco de acordo com os tratadistas em que as muralhas têm que envolver dois morros à cota 600, descendo abruptamente para uma zona central à cota de 550 m. É constituído por cortinas, baluartes e meio baluartes e também redentes que pretendem colmatar a difícil situação de defensibilidade desta localidade. O traçado abaluartado que hoje existe em Castelo de Vide demonstra bem como foi possível, com base na fortificação irregular minimizar as condicionantes que o terreno impunha ao sistema defensivo.

Traços de Identidade
O primitivo núcleo fortificado, nos finais do séc. XIII princípios do XIV, foi a matriz geradora da povoação. Toda a lógica de crescimento urbano de Castelo de Vide se subordinou directa ou indirectamente às condicionantes militares. De salientar que a sua torre de menagem medieval seria uma das mais imponentes torres edificadas durante o reinado de D. Dinis. Segundo alguns autores Castelo de Vide poderá assimilar-se ao movimento europeu das “bastides” e das Vilas Novas, aglomerados detentores de um planeamento prévio. Este movimento terá tido o seu auge com D. Afonso III e D. Dinis, embora não tenha seguido normas excessivamente rígidas de geometrização.
A condição estratégica e de defensibilidade que Castelo de Vide detinha no século XIV perdeu-se no século XVII, mercê da evolução de formas de fazer a guerra. Por melhor concebido que fosse o sistema de fortificação abaluartado, era difícil proteger o sistema de vida local. A configuração do aglomerado urbano no século XVII, obrigou à construção de um traçado muito pouco de acordo com os tratadistas, que com base na fortificação irregular tentou minimizar as condicionantes negativas do terreno, prevalecendo um espírito conservador, de resistência, de sobrevivência, de defesa instintiva.
A Praça Forte de Castelo de Vide é uma obra de arquitectura de valor excepcional, pela sua originalidade e concepção invulgar. Por este facto deve ser preservada ainda com mais entusiasmo. Ela resistiu aos conflitos dos séculos XVI e XVII sem ter sido abandonada, apesar dos enormes sacrifícios porque passou a população e a guarnição.

Cronologia do Monumento
Século X – notícia da existência de uma fortificação islâmica no local do castelo de Castelo de Vide;
Século XII – a Reconquista cristã chega aos territórios da actual Castelo de Vide. Poderá ter sido conquistada em 1180 por D. Afonso Henriques;
1173 - Castelo de Vide já é referido como povoação limite da doação de Abrantes por D. Afonso Henriques à Ordem de Santiago;
1194 – a mesma referência encontramos relativamente a Castelo de Vide na doação feita por D. Sancho I do domínio de Guidimtesta à Ordem do Hospital;
1198 – a mesma referência relativamente à doação da herdade de Açafa;
1226 – o foral de Marvão incluía o lugar de Vide;
1233 – Castelo de Vide já teria carta de foral, pois a mesma é adoptada para foral da vila de Tonhe, possessão da Ordem do Hospital. Não é conhecido este documento;
1262 – estatuto municipal confirmado através de um certificado de Castellum d’ uite. A Ordem de S. João do Hospital pode estar ligada aos primórdios deste concelho;
1273 – Castelo de Vide é entregue a D. Afonso, filho de D. Afonso III;
1281 – acordado o casamento de D. Dinis, com D. Isabel de Aragão em castelo de Vide;
1281-1282 – D. Afonso é impelido por D. Dinis a destruir as muralhas que havia edificado em Castelo de Vide;
1312 – D. Dinis toma para si Castelo de Vide após a morte de D. Afonso;
1327 – data da lápide que encima aporta principal da muralha de castelo de Vide que indica o inicio e o fim dos trabalhos no castelo, já no reinado de D. Afonso IV;
1372 – Castelo de Vide está na posse, temporária, da Ordem de Cristo;
1380 – Castelo de Vide volta à posse do rei;
1441-1442 – indicações que teria havido obras no castelo;
1461 – Castelo de Vide regressa à posse da Coroa, com D. Afonso V;1492 – grande acampamento em Castelo de Vide para acolher os judeus fugidos de Castela, engrossando a comunidade judaica de Castelo de Vide;
1509 – desenho do Castelo por Duarte d’Armas;
1512 – foral novo de D. Manuel I;
séc. XVII, a partir de 1641 - início da construção da fortificação abaluartada;
1652 - início de uma grande campanha de fortificações sobre projecto de Nicolau de Langres;
1705 - explosão destrói parcialmente a torre de menagem onde estava instalado um paiol;
1705-1710 - construção do Forte de São Roque e prolongamento da fortificação abaluartada para sudeste (Muralha dos Loureiros ou da Conceição), englobando o Bairro da Conceição, o Convento de São Francisco e o Calvário e criando-se uma nova porta, Porta da Aramenha (1710), sobre projecto de Manuel Azevedo Fortes;
1823 - desactivação da Praça;
1890 - destruição da Porta da Aramenha;
1910 – classificado como Monumento Nacional, pelo decreto de 16-06-1910, Diário do Governo, n.º 136, de 23 de Junho de 1910;
Séc. XX, 1ª metade – intervenções de reparação e reconstrução nas muralhas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais;
Século XX - obras de reconstrução de alvenaria na torre de menagem, muralhas e Forte de São Roque promovidas pela DGEMN;
1969 - o castelo sofre danos causados pelo sismo;
1985-1990- campanhas de escavação pelo grupo de Arqueologia de Castelo de Vide, sob a orientação de Jorge Oliveira;
Século XXI – novas intervenções de reconstrução da muralha;
2002 – “Projecto de Reabilitação do Edificado e Ordenamento Paisagístico do castelo de Castelo de Vide”, promovido pelo IPPAR;
2003-2005 – novas campanhas arqueológicas de minimização de impactes

Visita ao Monumento
Os Amigos visitaram Castelo de Vide em:
21-22/10/2000 – Dia dos Castelos
06/03/2004 – “Descobrir Ammaia”
http://www.amigosdoscastelos.org.pt